Em 2014, o Google vendeu a Motorola (empresa mãe do moderno telemóvel) pela Google, que a havia adquirido em 2011 por 12,5 mil milhões de dólares, à empresa chinesa Lenovo, por cerca de 3 mil milhões de dólares. À partida este parece um negócio estranho e ruinoso, que colocava mais uma empresa icónica nas mãos chinesas (como havia acontecido, por exemplo, à muito sueca Volvo ou à muito portuguesa EDP).

Tangíveis versus intangíveis

Todavia, se desenlearmos o novelo subjacente a esta notícia verificamos que os contornos são de facto inteligíveis. Antes de mais, a Google adquiriu a Motorola para conseguir duas coisas: um portefólio de patentes na área das comunicações móveis, que lhe permitiram defender-se contra os processos movidos pela Apple e Nokia (agora detida pela Microsoft) e, em segundo lugar, assegurar a progressão da plataforma Android e dos “smartphones”, colocando alguma pressão concorrencial nos outros fabricantes. Esta estratégia é, mais uma vez, uma epitome da intangibilidade dos negócios modernos, com o conhecimento protegido nas patentes e no software a desempenharem o papel principal no quadro competitivo. Quando a Google conseguiu assegurar alguma progressão do seu ecossistema, decidiu alienar esta empresa (mas não as patentes!), porque verdadeiramente o negócio da Google é intangível (e implica vendê-lo a si caro leitor – sempre que não paga por um serviço, porque você é o negócio) e não tangível.

Ciclos de vida da tecnologia

Por outro lado, a empresa Lenovo é nossa conhecida por estar envolvida noutra compra que também sinalizou o fim de uma era (da divisão de PCs ao inventor deste formato, a IBM). A compra da divisão de PCs da IBM marcou a transição deste centenário gigante da tecnologia para áreas mais intangíveis, essencialmente ligadas a softwares industriais, para negócios e para indústrias específicas (este ano a IBM irá vender o seu negócio de servidores, de novo, à Lenovo).

A Lenovo produz laptops de grande qualidade e, se para o comum cidadão este negócio representa uma ascensão tecnológica chinesa (de certo modo sim), a verdade é que representa também a evolução das grandes empresas para um patamar mais intangível e também mais gerador de valor. No fundo, se estiver a pensar numa carreira, talvez deva começar por aprender a programar, porque o futuro é do software.,

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