Crescimento?

Uma tempestade perfeita que juntou as interrupções no gás russo, a paragem parcial de algumas das centrais nucleares francesas e os problemas na hidroeletricidade norueguesa, levou os preços da energia europeia para um patamar surreal. No verão passado, os contratos anuais franceses e alemães para eletricidade eram negociados a cerca de €100 por megawatt-hora, mas, recentemente, os valores subiram acima de €1.000. Desde então os preços desceram, mas o gás ainda é negociado ao equivalente a cerca de 400 dólares por barril de petróleo. À medida que os contratos de energia existentes das famílias e empresas expiram e novos são realizados a situação torna-se cada vez mais difícil. A esta tremenda realidade junta-se o aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu para combater a inflação.

Muitos economistas preveem uma recessão nos próximos meses e a moeda única está no nível mais baixo em relação ao dólar, em duas décadas. A certeza de uma recessão, não é, no entanto, 100% segura para Portugal já que a taxa de crescimento do PIB, fruto de uma recuperação ímpar da procura, do turismo e do investimento, com uma energia ligeiramente mais barata do que na Europa, tem colocado o país à margem de uma situação mais grave. Na verdade, o país registará, provavelmente, o maior crescimento da UE – o que, conjugado com a alta inflação, levará a uma significativa descida da dívida nacional (o que é tão mais importante, quando os custos da dívida começam a subir). Para já a Comissão Europeia não tem tido a resposta capaz que teve à crise do Covid-19. Tetos máximos para os preços e a reformulação do mercado de energia, de modo a que os preços à vista não sejam definidos pelos custos do produtor marginal (que geralmente é abastecido a gás) parecem as únicas medidas eficazes a adotar.

É verdade que a configuração atual permite que algumas empresas de energia renovável, que produzem a um custo marginal próximo de zero, obtenham lucros, e que, se os preços do gás permanecerem altos por anos, podem ser descritos como injustificados. Mas esse mesmo sinal de preço, em condições de concorrência, incentiva mais investimentos em energias renováveis – o que é fundamental para o futuro europeu. Talvez deixar o mercado funcionar e transferir dinheiro para os mais pobres possa ser uma solução mais barata, face às atuais medidas. A Comissão Europeia poderia também usar parte do seu fundo de recuperação de pandemia (de 807 mil milhões de euros) para projetos de energia e para os apoios fiscais dos diversos Estados. Uma crise ímpar exige respostas coletivas e musculadas, mas a harmonia pandémica parece esboroar-se. Esperemos que os decisores tenham a “energia” para essas soluções criativas.

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